Os <i>media</i> e as torturas<br>da História

A comunicação social, jornalistas e comentadores mobilizados após a morte de Mário Soares no passado fim-de-semana, protagonizaram uma enorme operação de deturpação histórica. Ao longo de dias, foi repetida uma leitura do que se passou nos últimos 43 anos, particularmente nos anos da Revolução portuguesa.

O combate ao pretenso perigo de uma «ditadura comunista» em 1975 tem sido repetida até à exaustão por comentadores, mas também por muitos dos jornalistas. A «ditadura comunista» é transformada em facto histórico, ainda que não passe no exame dos acontecimentos. Verdade ou não, foram surgindo insultos desbragados ao PCP – e à sua luta ímpar pela liberdade e e democracia –, oscilando entre epítetos insultuosos à nota do Secretariado do Comité Central.

Mas foram mais as cambalhotas históricas que foram dadas nos últimos dias. Enquanto primeiro-ministro, Soares «salvou o País de duas bancarrotas», repetiram jornalistas e comentadores. De novo o discurso com a marca ideológica da direita: a experiência recente do povo português com o pacto de agressão ajuda a perceber o significado desta expressão. A receita imposta pelo FMI nesses anos, tal como nos recentes anos da troika, resultou em mais desemprego e empobrecimento dos trabalhadores e do povo, pretexto e justificação para liquidar direitos.

O mesmo se pode dizer da espantosa formulação que atribui a Soares a nossa «adesão à Europa», quando em causa está a adesão de Portugal à CEE, hoje União Europeia. Por estes dias foi inventada, pelos nossos media, como que uma jangada de pedra ao contrário: um País que, com Mário Soares ao leme, encontrou o seu caminho em direcção ao continente europeu. Uma reescrita da geografia com implicações históricas, omitindo o que significou a entrada de Portugal na CEE enquanto operação política, com as comprovadas consequências económicas e de amputação da soberania.

Apelidar Soares como o «pai da democracia», com todas estas leituras enviesadas do nosso passado recente, em confronto e procurando moldar a memória colectiva do povo português, em nada contribui para o conhecimento da nossa história recente, com o contributo determinante de Mário Soares, alguém que ocupou os mais altos cargos públicos ao longo de mais de 20 anos.

Ao invés de contribuírem para o aprofundamento do conhecimento do percurso de Soares e das suas contradições, em que também foi assinalada a sua intervenção no combate ao fascismo e pela democracia e pela liberdade, jornalistas e comentadores moldaram uma imagem imaculada, muitas vezes em confronto com a realidade, ignorando mesmo o que os arquivos de vários órgãos de comunicação social podem testemunhar, prestaram um mau serviço ao povo e ao País.

«Costuma dizer-se que quem escreve a História são os vencedores», lembrou Jerónimo de Sousa, e isso explica muito do que passou pela imprensa, pelas rádios e pelas televisões, nos últimos dias. Mas, por mais que se esforcem os escribas ao serviço da direita mais reaccionária e retrógrada, a História não se apaga e a luta continua.

 



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